O tempo litúrgico da Quaresma é um período propicio para a prática do jejum. Mas esta prática não se resume apenas ao tempo quaresmal. Muitas pessoas prolongam ao longo do ano dias específicos para jejuar.
O jejum é uma prática espiritual que visa abrir, ou despertar, nossa alma para Deus e as necessidades do próximo. Acredito que é preciso dar um sentido concreto e espiritual a toda prática devocional e de fé que a Igreja nos ensina e orienta, caso contrário corremos o risco de fazermos o jejum porque todos fazem.
Após o período de jejum uma pergunta deverá ser respondida: No que, e em que o jejum me ajudou? Com uma resposta sincera e profunda nascida da experiência vivenciada poderemos ver como foi o caminho percorrido por nós.
O Código de Direito Canônico nos ensina o seguinte:
cân. 1251 – Observe-se a abstinência de carne ou de outro alimento, segundo as prescrições da Conferência dos Bispos, em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; observem-se a abstinência e o jejum na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Cân 1252 – Estão obrigados à lei da abstinência aqueles que tiverem completado catorze anos de idade; estão obrigados à lei do jejum todos os maiores de idade até os sessenta anos começados. Todavia, os pastores de almas e os pais cuidem que sejam formados para o genuíno sentido da penitência também os que não estão obrigados à lei do jejum e da abstinência em razão da pouca idade.
A abstinência é deixar de comer algum tipo de alimento. O jejum é deixar de fazer uma ou mais refeições ai longo do dia desde que não prejudique a saúde.
Como dar um sentido espiritual ao jejum? Suponhamos que se faça a opção por não almoçar em determinado dia. O gesto de não almoçar deve ter um sentido espiritual, pois pode sentir-se unido a tantos irmãos e irmãs que passam fome e diversas necessidades ao longo da vida. Mas este gesto também abre nosso coração para a presença de Deus em nós. O jejum desperta nossa alma para o agradecimento a Deus por termos o necessário para nossa sobrevivência.
Ao longo da quaresma muitos fazem a abstinência de não comerem carne, doces, ou algum outro alimento. Outros não bebem refrigerante, leite, café… Enfim, é retirado da alimentação algum item pelo qual a pessoa tem uma preferência especial. Este gesto deve despertar nosso coração para perceber Deus de maneira mais plena em nossa vida. Mas também deve despertar o nosso coração para a solidariedade.
Ao longo dos quarenta dias da Quaresma se economiza o dinheiro da carne, do refrigerante, do leite ou de outro alimento ou bebida do qual a pessoa se absteve. No jejum acontece o mesmo processo. Economiza-se o alimento de uma ou mais refeições. A partir desta perspectiva entra em cena o gesto concreto que nos ajuda nesta caminhada espiritual.
O que se economizou financeiramente com a abstinência e o jejum deverá ser revertido a alguma família carente. Pode-se fazer a doação de uma ou mais cestas básicas. O dinheiro economizado pode também ser destinado a obras de assistência social: asilos, hospitais, creches…
Desta maneira o jejum e a abstinência abrem o nosso coração para percebermos de maneira mais clara o amor de Deus por nós e este amor que nós experimentamos é transformado em ação, ou seja, caridade. Amor não sobrevive de teorias, ele precisa se concretizar na ação.
Padre Flávio Sobreiro da Costa
Sacerdote da arquidiocese de Pouso Alegre, bacharel em filosofia pela PUC-Campinas e teólogo pela Faculdade Católica de Pouso Alegre.
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