JOÃO PAULO II, O PAPA QUE FALAVA AO POVO



Livro percorre vida “midiática” de Wojtyla

 Figura amada inclusive pelos não-católicos, João Paulo II talvez seja o Pontífice mais "estudado", "analisado" e sobre quem foram escritos mais livros. O proposto por Sabina Caligiani, intitulado "João Paulo II, o Papa que falava ao povo" (Ed. Paulinas), é um deles.
Nascida em Perúgia em 1946, jornalista, também graduada em Direito e em Ciências Religiosas, Caligiani decidiu escrever estas páginas "porque não podemos nos esquecer de João Paulo II. (...) É como quando morre um ente querido, um familiar, e você quer que ele ainda esteja presente. Falando, lembrando suas palavras, suas ações, como se ainda estivesse conosco".
Escrito originalmente como tese universitária, o livro é dividido em duas partes: na primeira, são mostrados extrato de discursos do Pontífice polonês, os pontos cardeais da sua evangelização. Na segunda, mais específica e que, de fato, caracteriza o livro, descreve-se a relação entre João Paulo II e a comunicação.
Publicado em 2010, Caligiani retorna para falar sobre seu trabalho ao público de leitores, tendo em vista a próxima beatificação de Wojtyla, em maio. Acolhido em Roma pela ‘Livraria Internacional Papa Paulo VI', no centro do debate se coloca a figura de João Paulo II como um grande comunicador.
A autora, percorrendo o pontificado de Karol Wojtyla, destaca suas características, especialmente quando a atenção de João Paulo II incide sobre "a recuperação da pessoa como sujeito ativo de sua própria existência". Sublinha também que o fato de que a defesa da dignidade humana, inclusive através da mídia, tenha sido uma prerrogativa deste Papa, é algo histórico.
Porta-voz da cristandade através dos meios de comunicação, João Paulo II "é também quem enfrenta de forma radical as questões de fundo da informação e do jornalismo moderno. É uma mensagem forte, que se mantém intacta até hoje".
"Os comunicadores - disse o próprio Wojtyla - devem procurar a comunicação com o povo, devem aprender a conhecer as necessidades reais das pessoas, estar informados sobre suas lutas, devem ser capazes de apresentar todas as formas de comunicação com a sensibilidade que a dignidade do homem exige."
No início do pontificado, as visitas às paróquias romanas tornaram-se uma maratona desgastante para os que trabalhavam com ele, acostumados aos encontros sóbrios do Papa Montini. Com Wojtyla, era necessário correr, manter-se no seu ritmo. Um dia, no Vaticano, ele surpreendeu os presentes com uma frase: "O corpo, e somente ele, é capaz de tornar visível aquilo que é invisível: o espiritual e o divino". Este foi um ponto a seu favor.
"O fato de que a teologia abranja também o corpo não deve maravilhar ou surpreender quem está ciente do mistério e da realidade da encarnação: ‘Dado que a Palavra de Deus se fez carne - disse Wojtyla, na audiência geral de 2 de abril de 1980 -, o corpo entrou, digamos, pela porta da frente, na teologia, ou seja, na ciência que tem por objetivo a divindade'."
E, dirigindo-se aos jovens que se sentavam nas arquibancadas da ‘Arena di Verona', lembrou mais uma vez que o homem pode falar com seu corpo e, por isso, o corpo se torna linguagem. Uma comunicação cristológica a dele, "que lembra - diz Caligiani - a de Cristo com as parábolas".
Quando João Paulo II viajava de avião, "os jornalistas sentiam a mesma curiosidade dos apóstolos que seguiam Jesus, ouvindo as parábolas que o tornaram aceitável para as pessoas comuns, não cientes se serem a igreja primitiva, mas - conclui a autora - movidas pela curiosidade, pelo pressentimento do verdadeiro".
Pensando no breve papado de Albino Luciani, durante uma Missa concelebrada em sua memória, o então cardeal Wojtyla fez uma oração, que agora parece profética, dado o que logo depois aconteceria, com sua eleição para o trono pontifício: "Não podemos deixar de voltar a esse primeiro chamado, o dirigido a Simão, a quem nosso Senhor deu o nome de ‘Pedro'. Em especial o chamado definitivo, após a ressurreição, quando Cristo lhe perguntou três vezes: ‘Tu me amas?', e Pedro respondeu três vezes: ‘Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo'".
"Um coração humano deve estremecer, porque a pergunta é também um pedido. Deves amar! Deves amar mais do que outros." Um chamado de duplo significado: "É um convite a servir - concluiu Wojtyla -, é um convite a morrer".
E também com o último ato de sua vida terrena - a morte -, João Paulo II escreveu uma das páginas mais comoventes e acompanhadas pela mídia do mundo inteiro. Centenas de milhares de pessoas se emocionaram no dia do seu funeral, quando o evangelho, colocado sobre o seu caixão, na Praça de São Pedro, foi aberto pelo vento.
ROMA, segunda-feira, 21 de março de 2011 (Mariaelena Finessi - ZENIT.org)

Comentários