O Papa Bento XVI recebeu em audiência os participantes da 17ª Assembleia Anual da Pontifícia Academia para a Vida na manhã deste sábado, 26, na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano. Os temas dos debates da Academia, que iniciaram no dia 24, foram as consequências do aborto e da utilização de bancos para conservação de cordão umbilical.
"O aborto não resolve nada, mas mata a criança, destrói a mulher e cega a consciência do pai da criança, arruinando, frequentemente, a vida familiar", disse o Pontífice.
Discurso de Bento XVI na Plenária da Academia para a Vida
Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé
(tradução de Leonardo Meira - equipe CN Notícias)
Senhores Cardeais,
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos Irmãos e Irmãs,
acolho-vos com alegria por ocasião da Assembleia Anual da Pontifícia Academia para a Vida. Saúdo particularmente o Presidente, Monsenhor Ignacio Carrasco de Paula, e agradeço-o pelas suas corteses palavras. A cada um de vós dirijo as minhas cordiais boas-vindas! Nos trabalhos destes dias, tendes afrontado temas de relevante atualidade, que interrogam profundamente a sociedade contemporânea e a desafiam a encontrar respostas sempre mais adequadas ao bem da pessoa humana. A temática da síndrome pós-abortiva – vale dizer, o grave desconforto psíquico experimentado frequentemente pelas mulheres que recorrem ao aborto voluntariamente – revela a voz insuprimível da consciência moral e a ferida gravíssima que ela sofre cada vez que a ação humana atraiçoa a inata vocação do ser humano ao bem, que a ação testemunha. Nessa reflexão, seria útil também dedicar atenção à consciência, às vezes ofuscada, dos pais das crianças, que frequentemente deixam sozinhas as mulheres grávidas. A consciência moral – ensina o Catecismo da Igreja Católica – é aquele "juízo da razão, pelo qual a pessoa humana reconhece a qualidade moral dum ato concreto que vai praticar, que está prestes a executar ou que já realizou" (n. 1778). É, de fato, missão da consciência moral discernir o bem do mal nas diversas situações da existência, a fim de que, com base nesse juízo, o ser humano possa, livremente, orientar-se para o bem. A quantos desejariam negar a existência da consciência moral no homem, reduzindo a sua voz ao resultado de condicionamentos externos ou a um fenômeno puramente emocional, é importante rebater que a qualidade moral do agir humano não é um valor extrínseco talvez opcional e não é nem mesmo uma prerrogativa dos cristãos ou dos fiéis, mas acomuna todo o ser humano. Na consciência moral, Deus fala a cada um e convida a defender a vida humana em todo momento. Nesse vínculo moral com o Criador está a dignidade profunda da consciência moral e a razão da sua inviolabilidade.
Na consciência, o homem todo inteiro – inteligência, emoção, vontade – realiza a sua vocação ao bem, de forma que a escolha pelo bem ou pelo mal nas situações concretas da existência chega a assinalar profundamente a pessoa humana em toda a expressão de seu ser. Todo o homem, de fato, fica ferido quando o seu agir se desenvolve contrariamente ao ditame da própria consciência. Todavia, também quando o homem refuta a verdade e o bem que o Criador lhe propõe, Deus não o abandona, mas, exatamente através da voz da consciência, continua a procurá-lo e a falar com ele, a fim de que reconheça o erro e se abra à Misericórdia divina, capaz de curar qualquer ferida.
Os médicos, em particular, não podem fazer pouco caso da séria missão de defender do engano a consciência de muitas mulheres que pensam encontrar no aborto a solução para dificuldades familiares, econômicas, sociais, ou a problemas de saúde da sua criança. Especialmente nessa última situação, a mulher é muitas vezes convencida, às vezes pelos próprios médicos, de que o aborto representa não somente uma escolha moralmente lícita, mas mesmo um necessário ato "terapêutico" para evitar sofrimentos à criança e à sua família, e um 'injusto" peso à sociedade. Sobre um cenário cultural caracterizado pelo eclipse do sentido da vida, em que se é muito atenuada a comum percepção da gravidade moral do aborto e de outras formas de atentados contra a vida humana, pede-se aos médicos uma especial fortaleza para continuar a afirmar que o aborto não resolve nada, mas mata a criança, destrói a mulher e cega a consciência do pai da criança, arruinando, frequentemente, a vida familiar.
Tal tarefa, todavia, não diz respeito somente à profissão médica e aos agentes de saúde. É necessário que a sociedade toda se coloque em defesa do direito à vida do concebido e do verdadeiro bem da mulher, que nunca, em nenhuma circunstância, poderá se realizar na escolha do aborto. Também será necessário – como indicado pelos vossos trabalhos – não esquecer os auxílios necessários às mulheres que, tendo infelizmente já recorrido ao aborto, estão agora experimentando todo o drama moral e existencial. Múltiplas são as iniciativas, em nível diocesano ou de parte de voluntariados, que oferecem apoio psicológico e espiritual para uma recuperação humana plena. A solidariedade da comunidade cristã não pode renunciar a esse tipo de corresponsabilidade. Desejo fazer novamente, a tal propósito, o convite do Venerável João Paulo II às mulheres que fizeram recurso ao aborto: "A Igreja está a par dos numerosos condicionamentos que poderiam ter influído sobre a vossa decisão, e não duvida que, em muitos casos, se tratou de uma decisão difícil, talvez dramática. Provavelmente a ferida no vosso espírito ainda não está sarada. Na realidade, aquilo que aconteceu, foi e permanece profundamente injusto. Mas não vos deixeis cair no desânimo, nem percais a esperança. Sabei, antes, compreender o que se verificou e interpretai-o em toda a sua verdade. Se não o fizestes ainda, abri-vos com humildade e confiança ao arrependimento: o Pai de toda a misericórdia espera-vos para vos oferecer o seu perdão e a sua paz no sacramento da Reconciliação. A este mesmo Pai e à sua misericórdia, podeis com esperança confiar o vosso menino. Ajudadas pelo conselho e pela solidariedade de pessoas amigas e competentes, podereis contar-vos, com o vosso doloroso testemunho, entre os mais eloquentes defensores do direito de todos à vida" (Encíclica Evangelium vitae, 99).
A consciência moral dos pesquisadores e de toda a sociedade civil está intimamente implicada também no segundo tema objeto dos vossos trabalhos: a utilização dos bancos de cordão umbilical a título clínico e de pesquisa. A pesquisa médico-científica é um valor, e portanto um compromisso, não somente para os pesquisadores, mas para toda a comunidade civil. Daí surge o dever de promoção de pesquisas eticamente válidas por parte das instituições e o valor da solidariedade dos indivíduos em particular na participação em pesquisas destinadas a promover o bem comum. Esse valor, e a necessidade dessa solidariedade, evidenciam-se muito bem no caso do emprego de células estaminais provenientes do cordão umbilical. Trata-se de aplicações clínicas importantes e de pesquisas promissoras no plano científico, mas que, na sua realização, muito dependem da generosidade na doação do sangue cordonal no momento do parto e da adequação das estruturas, para fomentar a vontade de doação por parte das grávidas. Convido, portanto, todos vós a fazer-vos promotores de uma verdadeira e consciente solidariedade humana e cristã. A tal propósito, muitos pesquisadores médicos olham justamente com perplexidade para o crescente florescer de bancos privados para a conservação do sangue cordonal para exclusivo uso autólogo [em si mesmo]. Tal opção – como demonstram os trabalhos da vossa Assembleia – além de ser privada de uma real superioridade científica com relação à doação cordonal, debilita o genuíno espírito de solidariedade que deve constantemente animar a pesquisa daquele bem comum ao qual, em última análise, a ciência e a pesquisa médica tendem.
Queridos Irmãos e Irmãs, renovo a expressão do meu reconhecimento ao Presidente e a todos os Membros da Pontifícia Academia para a Vida pelo valor científico e ético com que realizais o vosso compromisso a serviço do bem da pessoa humana. O meu desejo é que mantenhais sempre vivo o espírito de autêntico serviço, que torna as mentes e os corações sensíveis a reconhecer as necessidades dos homens nossos contemporâneos. A cada um de vós e aos vossos queridos concedo, de coração, a Bênção Apostólica.
Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio,
Queridos Irmãos e Irmãs,
acolho-vos com alegria por ocasião da Assembleia Anual da Pontifícia Academia para a Vida. Saúdo particularmente o Presidente, Monsenhor Ignacio Carrasco de Paula, e agradeço-o pelas suas corteses palavras. A cada um de vós dirijo as minhas cordiais boas-vindas! Nos trabalhos destes dias, tendes afrontado temas de relevante atualidade, que interrogam profundamente a sociedade contemporânea e a desafiam a encontrar respostas sempre mais adequadas ao bem da pessoa humana. A temática da síndrome pós-abortiva – vale dizer, o grave desconforto psíquico experimentado frequentemente pelas mulheres que recorrem ao aborto voluntariamente – revela a voz insuprimível da consciência moral e a ferida gravíssima que ela sofre cada vez que a ação humana atraiçoa a inata vocação do ser humano ao bem, que a ação testemunha. Nessa reflexão, seria útil também dedicar atenção à consciência, às vezes ofuscada, dos pais das crianças, que frequentemente deixam sozinhas as mulheres grávidas. A consciência moral – ensina o Catecismo da Igreja Católica – é aquele "juízo da razão, pelo qual a pessoa humana reconhece a qualidade moral dum ato concreto que vai praticar, que está prestes a executar ou que já realizou" (n. 1778). É, de fato, missão da consciência moral discernir o bem do mal nas diversas situações da existência, a fim de que, com base nesse juízo, o ser humano possa, livremente, orientar-se para o bem. A quantos desejariam negar a existência da consciência moral no homem, reduzindo a sua voz ao resultado de condicionamentos externos ou a um fenômeno puramente emocional, é importante rebater que a qualidade moral do agir humano não é um valor extrínseco talvez opcional e não é nem mesmo uma prerrogativa dos cristãos ou dos fiéis, mas acomuna todo o ser humano. Na consciência moral, Deus fala a cada um e convida a defender a vida humana em todo momento. Nesse vínculo moral com o Criador está a dignidade profunda da consciência moral e a razão da sua inviolabilidade.
Na consciência, o homem todo inteiro – inteligência, emoção, vontade – realiza a sua vocação ao bem, de forma que a escolha pelo bem ou pelo mal nas situações concretas da existência chega a assinalar profundamente a pessoa humana em toda a expressão de seu ser. Todo o homem, de fato, fica ferido quando o seu agir se desenvolve contrariamente ao ditame da própria consciência. Todavia, também quando o homem refuta a verdade e o bem que o Criador lhe propõe, Deus não o abandona, mas, exatamente através da voz da consciência, continua a procurá-lo e a falar com ele, a fim de que reconheça o erro e se abra à Misericórdia divina, capaz de curar qualquer ferida.
Os médicos, em particular, não podem fazer pouco caso da séria missão de defender do engano a consciência de muitas mulheres que pensam encontrar no aborto a solução para dificuldades familiares, econômicas, sociais, ou a problemas de saúde da sua criança. Especialmente nessa última situação, a mulher é muitas vezes convencida, às vezes pelos próprios médicos, de que o aborto representa não somente uma escolha moralmente lícita, mas mesmo um necessário ato "terapêutico" para evitar sofrimentos à criança e à sua família, e um 'injusto" peso à sociedade. Sobre um cenário cultural caracterizado pelo eclipse do sentido da vida, em que se é muito atenuada a comum percepção da gravidade moral do aborto e de outras formas de atentados contra a vida humana, pede-se aos médicos uma especial fortaleza para continuar a afirmar que o aborto não resolve nada, mas mata a criança, destrói a mulher e cega a consciência do pai da criança, arruinando, frequentemente, a vida familiar.
Tal tarefa, todavia, não diz respeito somente à profissão médica e aos agentes de saúde. É necessário que a sociedade toda se coloque em defesa do direito à vida do concebido e do verdadeiro bem da mulher, que nunca, em nenhuma circunstância, poderá se realizar na escolha do aborto. Também será necessário – como indicado pelos vossos trabalhos – não esquecer os auxílios necessários às mulheres que, tendo infelizmente já recorrido ao aborto, estão agora experimentando todo o drama moral e existencial. Múltiplas são as iniciativas, em nível diocesano ou de parte de voluntariados, que oferecem apoio psicológico e espiritual para uma recuperação humana plena. A solidariedade da comunidade cristã não pode renunciar a esse tipo de corresponsabilidade. Desejo fazer novamente, a tal propósito, o convite do Venerável João Paulo II às mulheres que fizeram recurso ao aborto: "A Igreja está a par dos numerosos condicionamentos que poderiam ter influído sobre a vossa decisão, e não duvida que, em muitos casos, se tratou de uma decisão difícil, talvez dramática. Provavelmente a ferida no vosso espírito ainda não está sarada. Na realidade, aquilo que aconteceu, foi e permanece profundamente injusto. Mas não vos deixeis cair no desânimo, nem percais a esperança. Sabei, antes, compreender o que se verificou e interpretai-o em toda a sua verdade. Se não o fizestes ainda, abri-vos com humildade e confiança ao arrependimento: o Pai de toda a misericórdia espera-vos para vos oferecer o seu perdão e a sua paz no sacramento da Reconciliação. A este mesmo Pai e à sua misericórdia, podeis com esperança confiar o vosso menino. Ajudadas pelo conselho e pela solidariedade de pessoas amigas e competentes, podereis contar-vos, com o vosso doloroso testemunho, entre os mais eloquentes defensores do direito de todos à vida" (Encíclica Evangelium vitae, 99).
A consciência moral dos pesquisadores e de toda a sociedade civil está intimamente implicada também no segundo tema objeto dos vossos trabalhos: a utilização dos bancos de cordão umbilical a título clínico e de pesquisa. A pesquisa médico-científica é um valor, e portanto um compromisso, não somente para os pesquisadores, mas para toda a comunidade civil. Daí surge o dever de promoção de pesquisas eticamente válidas por parte das instituições e o valor da solidariedade dos indivíduos em particular na participação em pesquisas destinadas a promover o bem comum. Esse valor, e a necessidade dessa solidariedade, evidenciam-se muito bem no caso do emprego de células estaminais provenientes do cordão umbilical. Trata-se de aplicações clínicas importantes e de pesquisas promissoras no plano científico, mas que, na sua realização, muito dependem da generosidade na doação do sangue cordonal no momento do parto e da adequação das estruturas, para fomentar a vontade de doação por parte das grávidas. Convido, portanto, todos vós a fazer-vos promotores de uma verdadeira e consciente solidariedade humana e cristã. A tal propósito, muitos pesquisadores médicos olham justamente com perplexidade para o crescente florescer de bancos privados para a conservação do sangue cordonal para exclusivo uso autólogo [em si mesmo]. Tal opção – como demonstram os trabalhos da vossa Assembleia – além de ser privada de uma real superioridade científica com relação à doação cordonal, debilita o genuíno espírito de solidariedade que deve constantemente animar a pesquisa daquele bem comum ao qual, em última análise, a ciência e a pesquisa médica tendem.
Queridos Irmãos e Irmãs, renovo a expressão do meu reconhecimento ao Presidente e a todos os Membros da Pontifícia Academia para a Vida pelo valor científico e ético com que realizais o vosso compromisso a serviço do bem da pessoa humana. O meu desejo é que mantenhais sempre vivo o espírito de autêntico serviço, que torna as mentes e os corações sensíveis a reconhecer as necessidades dos homens nossos contemporâneos. A cada um de vós e aos vossos queridos concedo, de coração, a Bênção Apostólica.
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